quinta-feira, 2 de junho de 2011

Doce solidão

E de repente, decido viver.

Tão de repente, peço silenciosamente que esta tarde dure, que seja prolongada a cada respiração. Uma tarde solitária, uma tarde quase qualquer. De repente, quando sinto que não há mais nada por perto, quando suponho que talvez o mundo não passe de cinzas de cigarros, percebo a vida.
Me vejo sentada na areia. Me vejo tão bem que até consigo supor que sou feliz. Me sinto,  mas não me vejo. Sinto medo de me decepcionar com a visão de mim mesma. Poupo-me disso e de outras coisas do gênero. Prefiri não olhar para mim naquele momento.
Ouço o silêncio, mesmo quando existe o desejo de gritar. Percebo lentamente todos os meus sentidos. O mar está presente, a calma e a verdadeira razão de viver também. Aqui não existem cálculos, salários, chefes, contas atrasadas. Não existe o amor por coisas externas, que vem e depois despedem-se. Só a presença do hoje me devora. A vontade de ultrapassar limites, de ir além. A tarde que entra, que corrói, que maltrata, que faz bem. Apoio-me num barco e escrevo. Sou interrompida por um homem com uma rede na mão, perguntando se já fumei um cigarro dentro do mar. Respondi que jamais havia feito algo parecido, mas que parecia muito estimulante. Ele me respondeu " não há tranquilidade maior. Nenhuma buzina, nenhum trânsito, ninguém te enchendo o saco. Só você, o barco, o mar, o cigarro e uma boa música." Naquele momento, senti que estar sozinha não era tão ruim quanto parecia. Eu posso me sentir, posso me ouvir, posso entender quem sou. Você já experimentou isso?




Depois de um dia de trabalho, decido ver o mar. Quinta-feira, quinta-mar!
 Sou como as ondas que vi. O vento me arrasta quando estou muito longe da margem, venho em direção a ela com muito vigor para te levar comigo. Neste momento sou forte, consigo controlar-me e controlar-te. No fim, me despedaço. A condição humana é a fraqueza. Sumo aos poucos, até renascer.
Antes de ir embora, o pescador me pede um cigarro e fala mais um pouco sobre o mar. Peço para que ele me fotografe, e assim ele fez. Foi embora.
Estou sozinha novamente nesta tarde de cicatrizes, nesta tarde que me alimenta. Não sinto mais vontade de estar sozinha, a solidão parece perturbar. Desejo compartilhar aquela tarde que ardia, que silenciosamente ia embora. Decido entregar-me e aceitar as condições que foram estabelecidas.
Me pergunto quem sou. O "eu" de ontem é história. O "eu" de amanhã é desconhecido.
 Estou sozinha! Que felicidade, hoje estou sozinha!
Desligo o celular. Fumo um cigarro, falo sozinha, canto músicas. Busco tudo que existe em meu interior e acabo tendo a absoluta certeza de que tenho o que há de mais belo no mundo para oferecer: o amor. O mundo está cheio de vida, cheio de coisas e pessoas incríveis. Por um momento, viver parece ser divertido. Me percebo, me toco, relaxo, me exalto e, por um momento, sinto orgulho de ser quem sou. Carrego minhas cicatrizes nas mãos como se fossem medalhas.

E mais de repente ainda, levo um grande susto! A tarde já não era mais tão solitária assim. Ando lentamente até a margem do mar e finalmente decido olhar meu rosto refletido na água. Sorrio. Sorrio insistentemente. Me abraço, sinto o mar.Fecho os olhos, deixo o fim daquela tarde me levar.










Diante desta visão, percebo algo importante: Estou muito bem acompanhada.














                                                                                                

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