sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Desconsideração de hipóteses: a causa das maiores decepções






"Você é uma mulher livre!"
Foi o que disse a mulher loira, informando que eu já podia ir embora. 

Depois de ouvir esta instigante frase, tentei imaginar qual o significado da palavra 'liberdade' para as pessoas. Tenho total conhecimento de que minha liberdade nasce somente dentro de mim. Do contrário, serei uma eterna escrava das perturbações do meu interior. Dentro de mim, sempre desejei sentir de perto a liberdade, sempre quis me libertar de toda e qualquer prisão interna ou externa.

Hoje, me considero uma pessoa relativamente livre, mas ainda não consegui alcançar meus objetivos.

Liberdade, pura liberdade.
Liberdade de estar miseravelmente sozinha. Tento esquecer o que já vi e vivi, concluo que é totalmente impossível. Algo que, uma vez tocado
ou visto, jamais é esquecido e vai ocupando nossa mente até nos levar à loucura.



Contudo, uma coisa é certa: Quando alguém parte, mesmo contra nossa vontade, é porque outro alguém vai chegar. Não interessa como e nem quando, mas isso é praticamente certo.
É possível que, com o rompimento de  nossos relacionamentos, ocorram situações em que vamos nos sentir pequenos, inferiores, vamos agir com as emoções e entrar em profunda guerra com a razão (quando imploramos para reatar, por exemplo).
Mas, acredite: existe sempre um evento em nossas vidas que é responsável pelo fato de  pararmos de regredir. O universo inteiro conspira para que isso aconteça.

Infelizmente, as decepções vem também das expectativas que criamos. Muitas vezes depositamos nossa felicidade, nossos sonhos e planos em uma determinada pessoa e esquecemos completamente que ela não veio ao mundo para corresponder às nossas expectativas.
Então, quando percebemos que não fomos correspondidos da maneira que desejávamos, entramos em um profundo desespero e nos sentimos enganados e decepcionados com o indivíduo que não nos correspondeu. "Por que ela fez isso?" Depois de tanto amor que te dei e de tudo que passamos juntas, será que mereço seu abandono?"  " Todas as pessoas me decepcionam, e você é uma delas. Vou desistir dessas coisas! Chega de sofrer! O amor, as pessoas... tudo isso causa um profundo sofrimento em mim." Essas são as frases mais comuns. Digo isso porque, até então, eu me sentia assim.




 Entender e aceitar que estamos sujeitos a tudo é difícil, mas é necessário. Acredito que o principal caminho para as decepções está na DESCONSIDERAÇÃO DE HIPÓTESES. Vejamos a seguinte situação:

Depoimento apaixonado: "Eu, Ana, conheci Bruno e acho que estou apaixonada. No início da paixão, ele corresponde perfeitamente tudo que demonstro sentir por ele. Estamos juntos, apaixonados. Não quero nem pensar em qualquer possibilidade de término, isso não passa na minha cabeça e muito menos na dele (um erro fatal. Nunca, mais nunca MESMO suponha o que sua companheira (o) está pensando ou planejando sobre a relação de vocês).  Desconsidero a hipótese de que ele vai me deixar um dia. Não existem chances de outra pessoa concorrer com o que ele sente por mim, sem chances mesmo. Sou única em sua vida e viveremos por uma eternidade juntos (nem preciso comentar que eternizar o presente é algo que nunca se deve fazer, né? Devemos contar sempre com o fato de que as pessoas mudam).


RESULTADO: Um tempo depois, Bruno termina com Ana. Diz que não a ama mais, que não está mais interessada como estava antes, que se apaixonou por outra pessoa, deseja felicidades e diz que logo, logo encontrará uma nova paixão. Daí, vem o enorme sentimento de raiva e desespero. Ana sente-se traída, sente seus planos caindo por terra.



Tudo isso poderia ser evitado. Nas últimas décadas, a expectativa quanto ao amor e à longevidade garantida da paixão cresceram muito. A decepção e a insatisfação cresceram junto. Estou falando de algo de suprema importância: a capacidade que o homem tem de se auto-decepcionar inconscientemente.

Por que isso acontece?

Eu, Marianna, me pergunto constantemente. A expressão do meu rosto me ao pensar nisso me surpreendeu na aurora preguiçosa da manhã de hoje. Continuarei sem respostas para minhas perguntas. E isso me basta: saber que as perguntas fundamentais da vida jamais serão respondidas, e mesmo assim podemos seguir a diante.


Firme seus pés do chão e NUNCA desconsidere qualquer hipótese. Viva intensamente, sem deixar que as mesmas hipóteses que não estão descartadas por você atrapalharem sua vida e suas escolhas pessoais. Não deposite em qualquer pessoa seu desejo de felicidade, de longevidade, de estabilidade. Uma coisa que aprendi e levo comigo: compreendi que posso fazer tudo, exceto forçar uma pessoa a me seguir em minha loucura, minha sede de viver.
 Não se arrependa dos momentos que sofreu. Carregue suas cicatrizes como se fossem medalhas.

Hoje, meu chefe afirmou que eu ficaria mais um tempo no trabalho, mas eu recusei. Não era realmente necessário. Ele insistiu, eu não lhe dei escolha - afinal, sou uma mulher livre.

Livre, sem medo do rídiculo, sem medo de ousar, sem medo de fechar um ciclo e começar outro, urgentemente.

E você, também é livre?

Seja. Liberte-se das mágoas, angústias e dores. Ria dos seus próprios defeitos e problemas e não deixe de aproveitar a liberdade, mesmo que seja profundamente dolorosa e inevitável. Mesmo que você seja como eu: alguém que queria estar preso em alguém ou alguma coisa, mas acabou tendo que voar, mesmo contra a própria vontade.

A vida continua.


Como diz Paulo Coelho: " Liberdade tem um preço tão alto, tão alto quanto o preço da escravidão; a única diferença é que você paga com prazer, e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas".



Texto e imagens: Marianna Soares